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Como é aprender uma língua diferente da sua? Como é ser bilingue na minha realidade de professor Nômade Digital?
il y a 6 ans
O bilinguísmo é fantástico. Traz dinâmicas inesperadas em todos os níveis. Passei o maior sufoco no início mas aprendi que plano mental é visivelmente ligado ao plano físico, corporal, hormonal, todos!! Ler isso é moleza!Entretanto aprender isso na pele não é fácil. Uma coisa que ninguém diz nos manuais de linguística é sobre a administração da ansiedade. Se eu não aprendesse a dominá-la, não teria aprendido outras línguas. Pense nisso...
Aprendi que aprender uma língua muda a meneira de ver a realidade. Isso não é uma metáfora. Eu mudei mesmo até a noção de deslocamento temporal. Dependendo da língua, falar uma informação leva mais ou menos tempo para ser pronunciada. Quem precisa usar menos palavras, normalmente tem mais “pressa” para chegar até o final e isso, de novo, tem a ver com a ansiedade de saber logo a conclusão da informação. Uma boa conversa depende muito de saber respeitar o tempo dos outros. Pressa:do quê? O outro só está apenas falando. E quanto mais ele estiver na minha frente, mais eu vou poder obeservar as suas intenções. Bom: Como gerenciar a ansiedade no momento em que ela é tão forte? Ainda estou aprendendo. Porém aprendi que muita informação se esconde atrás da linguagem corporal de quem fala uma língua diferente da minha e isso faz toda a diferença.
Aprendi que nossos parentes de outra geração, vizinhos e até mesmo amigos ficam sem entender algumas coisas que eu digo. Mesmo se forem da mesma geração. Mesmo se convivemos. Algumas conexões
Aprendi também que falar outra língua gera um certo distanciamento inevitável do mindset familiar . Os familiares me olham e pensam “Ele é a mesma pessoa que eu conheci um dia?”, “Que será que esse alienígena está falando??”. Em poucas palavras: estou aprendendo a estar confortável em estar desconfortável.. E mais uma vez aprendi que quando começo a fazer associações de ideias incomuns para o mindset costumeiro do ouvinte, já não sou tão intrínseco ao grupo que “conhecia”, sou ovelhas negra e inclusive outsider.. Mesmo os bilingues da geração passada podem sentir estranheza , às vezes franzem a testa com algumas coisas que me ouvem dizer. Aprendi também que não tem nada mais prazeiroso para quem fala outras línguas que encontrar seus pares. Entrar em sincronia em várias línguas é fantástico!
Embora isso, eu me sinto ilhado solitário num paraíso tropical: Sem ninguém para dialogar. Os que já vivem nessa condição há mais tempo já preveem o que vou dizer. Os que não vivem, não podem entender até experienciar: Sabe a sensação de “sozinho na multidão”? Como explicá-la em palavras? As pessoas falam sem falar, têm ouvidos mas não ouvem, têm olhos mas não veem. Simplesmente porque a maioria não sabe o que é pensar a realidade em outra língua. Isso é algo muito estranho no bilinguísmo.
Aprendi que aprender línguas me faz crescer a alma. Exatamente porque aprendo a ser humilde. Não há melhor aprendizado de humildade que implorar , em outra língua, por um simples banheiro limpo com papel higiênico, quando tem-se um “esquilo sainda pela toca e já mostrou a cabeçinha...capisci?!”. Passo a ter mais paciência com os outros na minha língua porque eles podem ter uma emergência na minha língua, exatamente como eu na língua de algum deles! Que sufoco!!
Professor Daniel