ALAÍDE COSTA - UMA PIONEIRA, NA LUTA PELA EMANCIPAÇÃO DA MULHER NEGRA NA PROFISSÃO DE CANTORA POPULAR NO BRASIL.
ALAÍDE COSTA
UMA PIONEIRA, NA LUTA PELA EMANCIPAÇÃO DA MULHER NEGRA
NA PROFISSÃO DE CANTORA POPULAR NO BRASIL.
A partir da segunda metade do século XX, surgem no cenário artístico brasileiro as nossas primeiras cantoras negras não identificadas como sambistas, o que, antes, era inadmissível, já que o papel destinado as intérpretes de origem afro-brasileira, era muito bem demarcado por uma arte mais popularesca, “exótica” e esfuziante; sempre ressaltados por figurinos exageradamente justos, brilhantes e muito coloridos.
E, tudo isto, deveria combinar com decotes generosos, para destacar o corpo e os requebros sensuais das artistas.
Havia, realmente, um estereótipo que se manteria por longos anos, e que aprisionou a arte de muitas cantoras de real valor, que tiveram a sua criatividade podada, por limitarem-se, apenas a interpretação do samba.
Poderíamos citar como exemplos, bem sucedidos deste segmento musical as cantoras; Elza Soares (Elza da Conceição Soares) 23/06/1935, Dalila (Dalila da Silva Costa) 18/10/1941 (RS) (já falecida), Watusi (Maria Alice Conceição) Niterói - 1952, e mais recentemente a Alcione (Alcione Dias Nazareth) 21/11/1947 (MA).
Porém, é necessário que fique bem claro, que ser uma cantora de sambas, tendo a malemolência do gênero nos pés e nos quadris, para melhor interpretá-lo, não desmerece ninguém; a grande questão é quando, isto, se torna uma imposição do mercado, para não permitir que cantoras negras, ousem deixar a música das senzalas, e venham apropriar-se das melodias mais sofisticadas dos salões da casa grande, por serem consideradas de uso exclusivo das representantes de uma elite branca e dominante.
Convém, ainda, esclarecer que a nossa focalizada a cantora Alaíde Costa, também, gosta de samba, é salgueirense de coração, desfila na Acadêmicos do Salgueiro, e por muitos anos, fez parte de sua ala de compositores, bem como, no ano de 1973, puxou o samba-enredo “Eneida, Amor e Fantasia” (Geraldo Babão), na Av. Presidente Vargas, no desfile oficial da querida agremiação, que conquistou o 3º lugar.
Porém, ao escolher ser uma cantora profissional, queria ter o direito de cantar outros gêneros musicais do Brasil, e não sentir-se limitada ao samba tradicional, pelo simples fato de ser negra.
Mas, quando o assunto é discriminação racial na MPB, fica bastante difícil neste nosso tão particular contexto social, classificar e enquadrar as nossas cantoras negras; isto, porque no Brasil vive-se um racismo velado, sutil, e muito mascarado pela falácia da chamada democracia racial.
Afinal, o racismo no Brasil existe, ele é real, porém, é negado o tempo inteiro, até, com certa veemência por muita gente do meio musical, e também, pela própria população do país; já que a mídia oficial reforça e ratifica a todo instante esta mentira.
Veja o que acontece na Bahia, um estado que concentra uma grande população de negros e mestiços, e, que exporta a chamada axé-music; daí me causa muita estranheza, o tratamento diferenciado dispensado aos artistas da terra, vide o caso da cantora negra Margareth Menezes, que está sempre fora dos holofotes, enquanto, a Daniela Mercury, a Ivete Sangalo e a Claudia Leite, todas brancas, recebem todas as atenções da mídia de todo o país
Fica a pergunta no ar, por que será?
Desta forma, este racismo à brasileira, torna-se bem mais cruel, pois, ao iludirem-se os cidadãos negros, de que se vive numa democracia racial, aonde todos seriam iguais, estamos desencorajando-os a tentar mudar tal situação.
E, quando, em algum momento de suas vidas, se deparam com esta realidade cruel, o que, geralmente, ocorre, quando ele disputa um emprego, um cargo, uma promoção, enfim, seja lá o que for, com um oponente branco, nesta hora, ele se verá num enfrentamento muito desigual, para o qual jamais se preparou.
Sendo assim, podemos afirmar que no Brasil, a discriminação vai se diluindo numa escala gradativa de tez de pele, agravando-se onde a melanina é mais evidente, o que faz com que muitos descendentes de africanos, ou mestiços, de pele mais clara e cabelos menos "carapinhados", sejam desde pequenos, induzidos a não se considerarem negros, num processo forçado pelas circunstâncias, de que “embranquecendo”, serão mais bem aceitos e assimilados pela sociedade brasileira.
No meio artístico e musical, isto aconteceu com muita gente boa, algumas, inclusive, conseguiram alcançar a categoria estrelar, aceitando este "embranquecimento", e renegando as suas origens raciais, ao clarear a pele, afilar narizes e lábios, através da cirurgia plástica e adotar alisamentos capilares e tinturas para clarear os cabelos.
No entanto, não nos cabe julgar a decisão das que se deixaram seduzir, afinal, para muitas daquelas jovens aspirantes a cantoras, entrar para o rádio, seria, talvez, a única oportunidade de ascensão social, em virtude, de suas origens humildes, da pouca instrução, já que vinham em sua maioria das periferias suburbanas, ou de outras pequenas cidades do interior do país.
Creio, mesmo, que não mereçam nossa condenação, afinal, era uma época de muito preconceito e impossibilidades, quando o mercado de trabalho era muito mais fechado e difícil para as mulheres, e o rádio com o seu canto de sereia, oferecia uma vida nova, com aplausos, reconhecimento público, remuneração financeira e muito sucesso; e, tudo isto, seria uma tentação quase impossível de resistir.
Daí, vamos citar três grandes nomes, que, poderiam bem exemplificar o que tentamos explicar acima, pois fizeram um enorme sucesso no Brasil, onde se tornaram grandes estrelas, foram amadas pelo público, incensadas pela crítica especializada, bem como, venderam milhares de discos, sem que ninguém mais se importasse, se eram brancas ou não:
A primeira foi a Aracy Cortes (Zilda de Carvalho Espíndola), uma mulata clara, carioca, nascida em 31/03/1904 (RJ) e falecida em 08/01/1985 (RJ), que foi a maior estrela do teatro musical brasileiro, onde com sua voz de soprano, tornou-se uma das mais originais sambistas do Brasil, desde a sua estréia em 1921; e, sua carreira de sucesso, levou-a inclusive a excursionar por outros países vizinhos, sempre com muito sucesso, incluindo a Argentina, onde os negros, aquela época, eram quase uma aparição.
A segunda foi a Dalva de Oliveira (Vicentina de Paula Oliveira) “A Rainha da Voz“, nascida em Rio Claro (SP), em 05/05/1917 e falecida em 30/08/1972, filha de pai negro e mãe portuguesa, esta linda mulata clara, de olhos verdes, foi a dona da voz mais bela e famosa já surgida no Brasil.
Uma voz que encantou várias gerações de fãs, sendo, até hoje, referência para muitas cantoras da nova geração.
A voz de Dalva de Oliveira atravessou fronteiras, levando-a a gravar discos e excursionar pela Argentina, Chile, Portugal, México; e, também, pela Inglaterra, onde, apresentou-se na BBC de Londres, e realizou uma audição especial para a Rainha Elizabeth II.
Pode-se dizer que o seu canto perfeito, criou um estilo peculiar, que teve muitas discípulas e seguidoras, sendo a mais famosa e a mais bem sucedida de todas, a escolhida como o nosso terceiro exemplo, ou seja, a famosa “Sapoti”, apelido que recebeu do presidente Getúlio Vargas.
Chegamos ao nosso terceiro nome, Ângela Maria (Abelim Maria da Cunha) nasceu em Macaé (RJ) em 13/05/1929, a quem o presidente da República o Dr. Getúlio Dornelles Vargas, seu admirador, chamou-a carinhosamente de “A Sapoti”.
Também, filha de pais mestiços, nasceu dotada de uma voz maravilhosa, e, confessadamente, sofreu forte influência da grande estrela Dalva de Oliveira, a quem imitava com perfeição, no início de sua carreira em 1948.
Porém, no inicio dos anos 50, veio a se tornar uma das mais famosas cantoras do país, e uma das maiores vendedoras de discos de todos os tempos, sua carreira atravessou fronteiras, e ela, também, realizou várias excursões com absoluto sucesso por vários países das Américas, também, da Europa, tendo, inclusive, estrelado no México a película: “Rumbo a Brasilia” em 1961.
A estes três nomes tão bem sucedidos, podemos acrescentar o de Elizeth Cardoso (Elizeth Moreira Cardoso) 07/07/1920 (RJ) – 07/05/1990 (RJ) “A Divina”, como ficou conhecida; Marisa Gata Mansa (Marisa Vertullo Brandão) 27/04/1938 (RJ) – 10/01/2003 (RJ), Dolores Duran (Adiléia Silva da Rocha) 07/06/1930 (RJ) – 24/101959 (RJ), e, finalmente, Ellen de Lima (Helenice Teresinha de Lima Pereira de Almeida) 24/03/1938 - Salvador (BA), ainda em atividade.
Portanto, após, estas necessárias exemplificações sobre as exceções, vamos, a partir de agora, focalizar as cantoras negras, com maiores evidências de suas origens raciais africanas, e com melanina suficiente em seu DNA, para não permitir um “embranquecimento” tão eficiente; portanto, será a saga destas grandes e extraordinárias artistas brasileiras, que, nos interessa melhor compreender.
Assim sendo, escolhemos falar sobre uma extraordinária mulher e artista brasileira, que, sintetiza a luta, pela libertação e rompimento destas antigas regras mercadológicas, que, atrelavam as cantoras negras, a um único e determinado padrão de comportamento e expressão de sua arte.
A escolhida foi a carioca Alaíde Costa (Alaíde Costa Silveira Mondin Gomide), nascida na cidade do Rio de Janeiro (RJ) em 08/12/1935, filha de Hermínio Silveira e de Manuela Costa Silveira, por ter sido a pioneira desta justa causa, desde, que iniciou a sua trajetória na carreira artística, ao percorrer todos aqueles famosos programas de calouros da década de 1950.
Durante este período inicial, Alaíde Costa, já se mostrava uma rebelde, pelo menos, no que diz respeito ao repertório escolhido para participar dos referidos programas.
Geralmente, ela costumava provocar certo ceticismo dos apresentadores, quando a ouviam timidamente responder, que, iria cantar no programa, canções mais elaboradas, de harmonias bastante sofisticadas e complexas; e, que exigiam, no mínimo, uma vivência ou experiência maior do intérprete, como: “Noturno em Tempo de Samba” (Custódio Mesquita – Evaldo Ruy) “A Dama de Vermelho” (Pedro Caetano – Alcyr Pires Vermelho), “Murmúrios” (Regina Célia – João Pinto) ou “Minha Terra” (Waldemar Henrique), dentre outras de igual nível de dificuldades.
No entanto, a jovem Alaíde Costa, logo nos primeiros acordes ia dizendo a que veio, e acabava conquistando mais uma premiação, acumulando mais uma cobiçada nota cinco (a máxima); e assim, perseguindo o seu sonho, ela passou um longo período cantando nestes programas de calouros ou de cantores iniciantes, mas, sem receber remuneração fixa.
Analisando a sua trajetória inicial, podemos observar que o número de cantoras negras contratadas pelas grandes emissoras de rádio era, de fato, insignificante.
Tomando, por exemplo, a rádio Nacional (RJ), a mais importante emissora do país, naquele período, verificou-se que por lá já havia passado, apenas, a grande sambista Aracy de Almeida, contratada por ocasião de sua inauguração em 1936; depois, vieram Zezé Gonzaga, a Ângela Maria, a Ellen de Lima, Olinda Ribeiro e a Marisa Gata Mansa, porém, estas duas últimas tiveram passagem meteórica pela emissora da praça Mauá, e não tiveram os seus respectivos contratos renovados.
Todas as demais, como também, a nossa focalizada Alaíde Costa, a Maria Isabel, a Yuyu da Silva (que, depois imigrou para Argentina), a Mara Abrantes (idem, para Portugal), a Ruth Barros, a Áurea Martins, e muitas outras, apresentavam-se muitas vezes na emissora, porém, sempre como artistas convidadas, jamais foram contratadas para o elenco fixo de cantoras.
Nesta época, a rádio Nacional, havia criado um “cast de novos”, que eram escalados para substituir os cantores famosos contratados da emissora, que, por alguma razão, precisassem ausentar-se do Rio de Janeiro, e a Alaíde Costa, Áurea Martins, Marisa Gata Mansa, Ellen de Lima, Maria Isabel, e muitos outros nomes, fizeram parte deste seleto grupo.
E, mesmo contando com a grande admiração de Paulo Gracindo, e de César de Alencar, os dois mais famosos apresentadores de programas de auditório da emissora, nem a Alaíde Costa, tampouco, a Áurea Martins, foram convidadas a assinarem com a emissora, mesmo, que suas respectivas apresentações, fossem sempre muito elogiadas e aplaudidas pela platéia da rádio nacional.
Deste grupo, apenas, a Ellen de Lima e a Marisa Gata Mansa, foram posteriormente, contratadas, coincidência ou não, ambas, tinham a pele mais clara e podiam passar perfeitamente por “morenas”.
Inclusive, a grande sambista Carmen Costa (Carmelita Madriaga Koeller), 05/07/1920 Trajano de Moraes (RJ) – 25/04/2007 (RJ), que, já era um sucesso com gravações de meio de ano e carnaval, desde a década de 1940, além, de ser uma mulher belíssima, também, não foi contratada da rádio Nacional, mesmo tendo se apresentado inúmeras vezes na emissora, sempre na condição de artista convidada, a Carmen Costa, também, apresentou-se na Venezuela, México e nos EUA, onde residiu por muitos anos.
Estas considerações nos dão certa compreensão, de como, era difícil para uma cantora negra iniciante, vencer naquele contexto, entretanto, com a sua voz afinadíssima e interpretações cheias de personalidade, Alaíde Costa, ia demolindo uma a uma as resistências ao seu trabalho.
E, prosseguia em sua luta, para conquistar o seu espaço, e chegar ao disco, pois, era este o maior desejo de todo cantor, ouvir a sua própria voz gravada em disco, e, assim, poder ser ouvida por todo o país.
Mas, as dificuldades eram muitas, nesta fase inicial, para quem não contava com apadrinhamentos, e disputava o seu espaço, apenas, com o seu talento e a sua vontade de vencer, e ainda tendo consciência das barreiras a enfrentar devido ao racismo existente, embora, fosse velado.
A cantora, por uma questão de ética e de seu caráter discreto, não cita nominalmente as envolvidas, mas, lembra-se bem, de ter ouvido uma conversa entre três famosas cantoras da rádio Nacional, quando no palco-auditório, apresentava-se a Ângela Maria, enquanto, ela, Alaíde Costa, esperava na fila de cantores o momento de apresentar-se, ouviu o seguinte comentário de uma delas: “A Nacional, está virando um navio negreiro”:
Noutra ocasião, após, haver se apresentado no auditório da Nacional, alguém, da produção veio lhe informar, que haviam ligado do Copacabana Palace, da parte de seu diretor artístico o Sr. Caribé da Rocha, para que ela fosse procurá-lo, num determinado dia e horário, para fazer um teste, pois a orquestra da boite do Copacabana, buscava uma nova lady-crooner para contratação.
Alaíde Costa, muito entusiasmada com o recado e a possibilidade de um trabalho fixo num local, como o Copacabana Palace, apresentou-se no dia marcado para encontrar-se com o Sr. Caribé; este, porém, ao vê-la pessoalmente, olhou-a sem disfarçar a decepção com a sua negritude (afinal, ele a ouvira, só através do rádio), e, certamente imaginara tratar-se de uma cantora branca, daí, lhe disse secamente que a vaga já havia sido preenchida.
Também, para que fique bem compreendido, como a coisa funciona em termos de Brasil; algum tempo depois a “morena” Marisa Gata Mansa, foi aprovada e passou a trabalhar como crooner da Orquestra do Copa, ainda sob a direção do tal, Caribé da Rocha.
Aliás, mesmo entre os artistas negros já consagrados, somente o ator Grande Othelo, havia trabalhado lá, todos os demais negros, que, por lá se apresentaram eram atrações internacionais como, por exemplo, a grande vedete e cantora norte-americana Josephine Backer, em 1963, e, com quem Othelo, dividiu o palco algumas vezes, no famoso número “Boneca de Pixe” (Ary Barroso – Luiz Iglésias) uma música de 1938, de título muito sugestivo, mas, hoje, considerada politicamente incorreta.
Mas, voltando a nossa focalizada e persistente Alaíde Costa, em 1956, pela gravadora Mocambo, ela grava o seu primeiro disco de 78 RPM, que trazia no Lado A, o samba-canção “Meu Dilema” (Hélio Costa – Anita Andrade) e no lado B, outro samba-canção “Tens Que Pagar” (Alaíde Costa – Ayrton Amorim), infelizmente, sem repercussão.
No ano seguinte, levada por um técnico de som da gravadora Odeon, que lhe ouviu cantar no famoso Dancing Avenida (RJ), fez um teste na Odeon, onde foi aprovada pelo seu diretor artístico Aloísio de Oliveira (Bando da Lua), e finalmente o sucesso chegou logo, com o primeiro lançamento na nova gravadora com a romântica “Tarde Demais” (Raul Sampaio – Hélio Costa).
“E, com esta gravação, finalmente, é notada pela mídia nacional, sendo apontada como a Grande Revelação Feminina de 1957”.
Quando se encontrava nos estúdios, gravando o seu segundo disco pela Odeon, Alaíde Costa, foi ouvida por João Gilberto, que entusiasmado com a sua voz muito afinada, e o seu jeito diferente e moderno para a época de interpretar, lhe fez um convite para que conhecesse a turma da Bossa-Nova; que era constituída por jovens amadores de classe média da zona Sul do Rio de Janeiro; e, que, segundo ele, estavam compondo um tipo de samba mais contemporâneo e jazzístico; e que Alaíde poderia incorporar ao seu repertório com exatidão.
Aceito o convite, Alaíde Costa vai a uma reunião em casa do famoso e consagrado pianista Bené Nunes, aonde é apresentada a todo o grupo, e se entusiasma com tudo o que ouviu, mas, sobremaneira se identifica com um jovem compositor e violonista chamado Oscar Castro Neves, de quem Alaíde Costa aprendeu e lançou diversas músicas, como: Chora Tua Tristeza” (Oscar Castro Neves – Luvercy Fiorini), 1960, “Lagrima” (Oscar Castro Neves – Luvercy Fiorini) 1961, Antes e Depois “(Oscar Castro Neves) 1972, “Companheira da Manhã” (Oscar Castro Neves – Regina Werneck) 1973, Onde Está Você (Oscar Castro Neves – Luvercy Fiorini) 1964, Adeus (Oscar Castro Neves – Luvercy Fiorini) 1965 e “Morrer de Amor” (Oscar Castro Neves – Luvercy Fiorini) 1965.
Nesta noite, eles iniciaram uma longa relação de amizade, que se traduzia em recíproca admiração, pois, assim, como ela o profissionalizou ao gravar sua música “Chora Tua Tristeza” em 1960, ele, também, lhe deu o seu maior sucesso, a linda canção “Onde Está Você” em 1964.
O músico Oscar Castro Neves, 15/05/1940 (RJ) radicou-se nos EUA, após o lançamento oficial da Bossa-Nova, no famoso show do Carnegie Hall, em 1962, e faleceu vítima de câncer em 27/09/2013 naquele país.
Mas, em 1973, através do produtor Aloísio de Oliveira, eles juntaram-se novamente, para o álbum Alaíde Costa & Oscar Castro Neves, onde reunidos estes dois artistas e amigos, realizaram um álbum maravilhoso, em que Alaíde canta emoldurada pelos arranjos e a regência do inesquecível músico brasileiro Oscar Castro Neves.
Voltando ao início do movimento da Bossa Nova, convém registrar que a cantora Alaíde Costa, teve destacada atuação, nos primeiros shows do novo movimento musical no Rio de Janeiro, e junto com ela, também, outros artistas já profissionais, também, interessados pelo movimento, como: Sylvia Telles (grande amiga de Alaíde) e mãe da cantora Claudia Telles, Norma Benguel (atriz e cantora), Claudette Soares, Lúcio Alves, tendo em vista, que os demais, eram todos jovens músicos amadores, como: Roberto Menescal, os irmãos Castro Neves (Oscar, Iko e Mário), Ronaldo Bôscoli, Normando, Nara Leão, Laís e muitos outros.
Porém, quando se fala de Bossa Nova e música moderna, não se pode deixar de citar o nome do grande músico Johnny Alf, que, já criava música de altíssimo nível e modernidade, desde a metade dos anos 50, e que teve em Alaíde Costa, a sua melhor intérprete, segundo o próprio autor.
Alaíde Costa e Johnny Alf estiveram juntos no palco, por diversas vezes no Brasil, e, também, no exterior em 2003, quando excursionaram por quinze cidades européias ao lado dos músicos alemães, Paulo Morello e Kim Barth, e, encerrada com um show belíssimo no Queen Elizabeth Hall, em Londres, completamente lotado.
Na ocasião, também, gravaram dois álbuns, produzidos pelos músicos alemães Paulo Morello & Kim Barth: “Fim de Semana em Eldorado” e “Bossa Nova Legends”, ambos, ainda inéditos no Brasil.
Também, em 2010 a cantora lançou um songbook dedicado à obra do amigo Johnny Alf, com o título de “Alaíde, canta Johnny – em Tom de Canção, pela gravadora Lua Music.
Aliás, se ambos, não fossem negros, é bem provável, que o título de “papa da Bossa Nova” fosse concedido ao Johnny Alf, e o de “musa da Bossa Nova, coubesse a cantora Alaíde Costa, e, seria por absoluto e total merecimento.
A carreira de nossa focalizada teve grandes momentos, inclusive no teatro, onde Alaíde Costa viveu experiências marcantes, atuando como atriz, no espetáculo teatral “Os Monstros” de Denoy de Oliveira, em 1969, ao lado do ator Raul Cortez, e direção da consagrada Ruth Escobar, dentre outras.
Também, o ano de 1965, Alaíde Costa realizou um espetáculo inesquecível, ao cantar no Teatro Municipal de São Paulo (SP), “Baladas Medievais”, acompanhada de Alaúde, com direção musical e regência do Maestro Diogo Pacheco.
Como cantora popular Alaíde Costa gravou o fino da MPB e como compositora é parceira de Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Geraldo Vandré, Johnny Alf, Hermínio Bello de Carvalho, Ayrton Amorim, Haydée Hayblan, Paulo Alberto Ventura e outros.
Sua discografia é pequena em relação aos seus mais de 50 anos de carreira, porém, nenhum de seus trabalhos é fruto de imposição da mídia, pois, Alaíde Costa, apesar de todas as pressões sofridas, jamais abriu mão da qualidade, sempre prevalecendo as suas escolhas pessoais.
Outro grande momento de sua carreira em disco foi a gravação de “Me Deixa em Paz”, realizada em 1971, para o cult álbum “Clube da Esquina”, lançado pela Odeon-EMI, ao lado de seu amigo Milton Nascimento, e relançada em 2012, para a trilha sonora da novela “Lado a Lado” da TV Globo, como tema da personagem vivida pela atriz Camila Pitanga.
A cantora em 2008, também, dedicou um CD inteiro a obra de seu amigo Milton Nascimento, com o título de “Amor Amigo”, pela Lua Music.
Alaíde Costa, esta talentosa artista brasileira, cuja carreira artística foi construída, passo a passo de forma irrepreensível, sem facilidades ou protecionismos, muito pelo contrário, não faltaram impedimentos e desafios, que foram vencidos, com muita perseverança, coragem, luta dedicação, coerência, e respeito à arte musical.
E, segundo suas próprias palavras, ela diz que faria tudo de novo, pois, se orgulha de tudo o que realizou; apesar de não estar financeiramente estabilizada, após, tantos anos de trabalho profissional com música.
No entanto, tem plena consciência, de que, até agora, só cantou o que quis e o que tocou a sua sensibilidade, enfim foi sempre verdadeira em suas realizações.
E mesmo, tendo custado um alto preço fazer esta opção de qualidade e estilo ela afirma “faria tudo de novo”.
Concluindo, podemos afirmar que a luta pessoal desta artista e mulher negra brasileira, pode proporcionar a todas as outras, surgidas, após, o seu pioneirismo, trilhar caminhos, até então inéditos a uma artista popular afro-descendente.
Hoje na MPB, temos diversos nomes como: Áurea Martins, Adyel Silva, Arícia Mess, Leila Maria, Misty, Virgínia Rosa, Izzi Gordon, Rosa Maria Colin, Zezé Motta, Thalma de Freitas, Daúde, e muitas outras, que já vislumbram novos tempos, e se beneficiam da luta travada pela Alaíde Costa, contra o sistema vigente a mais de 50 anos atrás, e inspiradas nela, não mais abaixam as suas cabeças pensantes, sob as ordens ditatoriais de uma multinacional qualquer.
Muito, pelo contrário elas vão à luta, destemidas, e cientes de seu valor como artistas, e, independentes traçam as suas próprias rotas e metas, para construir ou modificar os seus destinos.
13 août 2018